Memórias

Quando um gesto se torna uma memória, ele vira algo para levar dentro de si. Nossas memórias se constituem nas nossas ações no mundo, nossas referências e descobertas. É lá, na memória, que buscamos um lugar para morar quando a saudade aperta.

Numa noite cercada de expectativas, uma história que parece um filme, virou real. Tudo muito bem produzido, pensado para que crianças e famílias sentissem um abraço da escola na Noite do Pijama. Para fechar essa noite, uma equipe brilhante de música fez um espetáculo tão emocionante que tocou profundamente o vovô Francisco, acometido pelo Alzheimer. Nessa noite em família, o neto se diverte, acompanhado pela mãe, pela avó e pelo avô. Esse neto é um menino doce, gentil, imaginativo e que tem em casa um ninho que acolhe sua infância com respeito e amor. No momento da música ecoa a voz do avô, cantando a letra e melodia*… Sua memória está viva! A emoção corre solta, solta como as palavras cantadas por ele. Um milagre da memória, da história, da força e magia da música.

Não bastasse toda emoção, ouvir do neto que ele agradece pelo avô poder cantar junto com os professores, não dá para descrever. O coração acelera, as lágrimas embaçam as letras, sinto a memória sendo preenchida de afeto. 

Somos nossas memórias. A escola se faz presente na vida das pessoas de diferentes maneiras, nenhuma será como a outra. Nunca conseguiremos dimensionar esse alcance. Mas podemos constatar que afeto é um ingrediente fundamental para que essas e outras histórias preencham nossas memórias com marcas tão profundas que até mesmo diante do impossível, possam ser resgatadas numa recordação.

Gratidão família Alvim por compartilhar conosco esse momento tão íntimo, bonito e delicado.

Por Fabiane Santos de Assis, em maio de 2020

*Música Smile- canção composta por Charles Chaplin originalmente em 1936 para seu filme Tempo Modernos.