Pensar a relação íntima que precisa ser estabelecida entre o espaço urbano, a escola e a arte foi o eixo norteador do 3° Evento de Educação e Cultura, que ocorreu no dia 25 de setembro, no Teatro GayLussac. A manhã contou com a participação de peso do Secretário das Culturas de Niterói, Leonardo Giordano; do Secretário de Educação, Vinícius Wu; e do Diretor do Museu de Arte Contemporânea, Victor de Wolf, em mesa mediada por Luiza Sassi, nossa Diretora Geral. O debate levantado por todos girou sobre o desafio de integração entre a escola e a cidade, estimulando que professores e crianças ocupem os equipamentos culturais e esportivos do ambiente urbano.
O evento contou também com a participação dos nossos professores com trabalhos de destaque em arte e patrimônio cultural, envolvendo os presentes em reflexões cruciais sobre a importância da educação artística de forma ampla, incluindo o teatro e indo além das artes plásticas. Andrea Ferrassoli, professora regente do 4º ano do Ensino Fundamental, falou sobre o lugar do patrimônio no currículo; Helena Marques, atriz e diretora do Dobra Criativa, e Lucas Leal, professor de Teatro do Fundamental 2, falaram sobre o valor do teatro na escola; Bárbara Malaquias, Lívia de Jesus e Débora Bivar, professoras de artes de diferentes segmentos, refletiram sobre a arte na escola para além das artes plásticas.
O evento foi transmitido ao vivo em nosso Canal no YouTube. Clique aqui para acessar!
Com a voz: os professores
Para abrir uma manhã de muito diálogo e aprendizagem, a fala começou com Andrea Ferrassoli, professora do 4º ano do Ensino Fundamental, que contou sobre o trabalho com o patrimônio da cidade de Niterói desenvolvido com seus alunos. No interior do projeto “Por um mundo melhor”, a turma decidiu investigar os monumentos da cidade e visitou vários bustos para reconhecer pontos de melhoria que pudessem propor. Contudo, nessa visita, as turmas se surpreenderam. “Não existiam monumentos femininos na cidade”, nota a professora.
Muito mobilizados com a questão, a turma pesquisou mulheres que marcaram a história da cidade e levou cartazes à Câmara Municipal de Niterói pedindo uma mudança e inserção de figuras femininas no espaço urbano.
“O espaço também é educador. As crianças perceberam isso e questionaram qual a mensagem que a cidade está passando com a ausência de mulheres em suas ruas e praças”, Andrea Ferrassoli
Helena Marques explicou que a presença do teatro na escola é muito importante na formação de plateia, apresentando e criando intimidade nas crianças com várias linguagens teatrais. A atriz, que é integrante do time do Teatro do Alegretto, projeto que nasceu junto com o GayLussac Jardim, nota que nos últimos anos a esquipe tem apresentado aos alunos da Educação Infantil técnicas diversas do mundo teatral, como os bonecos siameses da peça Narciso ou as máscaras Lavárias da peça NóS.
“O GayLussac é a única escola que conheço que tem espetáculos teatrais em seu currículo. O resultado são crianças que estão muito acostumadas a ir ao teatro”, conta Helena.
Para ler mais sobre o Alegretto na escola, acesse aqui!
O ator e professor Lucas Leal contou sobre como o teatro o salvou. “O Teatro te permite olhar o outro e olhar a si mesmo”, explicou em um texto pessoal e íntimo que foi muito aplaudido.
A professora e atelierista Bárbara Malaquias falou sobre a importância do Ateliê na escola e fez um relato de diversas atividades em que a parceria com as professoras regentes foi fundamental. Projetos como “O monstro das cores”, que estimulou o aluno a explorar seus sentimentos através das cores ou o projeto “Metamorfose”, que incentivou a observação das fases da lagarta até se transformar na bela borboleta foram debatidos. Barbara enfatizou “a importância de poetizar o olhar”.
Débora Bivar, contou sobre o desafio de inserir a arte de forma mais prática no Ensino Médio, fazendo releituras de obras, em experiências que demonstram o capital cultural dos alunos e os desafia a se envolverem em trabalhos plásticos e manuais. A professora Lívia de Jesus relatou o trabalho das experiências artísticas dos alunos dos anos iniciais do Fundamental 2.
“A escola é um lugar orgânico e por isso trabalhar em parceria com outros professores é muito importante”, conta Lívia.
Niterói: uma cidade educadora imersa na cultura
Cultura, educação e museu: Mesa Redonda com autoridades municipais
Debater no interior de uma escola privada sobre cultura, educação e patrimônio com autoridades municipais envolvidas em políticas públicas que podem mudar efetivamente a nossa cidade: eis o objetivo da mesa redonda mediada por Luiza Sassi, nossa Diretora Geral.
Leonardo Giordano, Secretário das Culturas de Niterói, explicou em sua fala que no Brasil o afastamento e isolamento da escola do espaço urbano dialoga muito com a questão da violência urbana. Para ele, é impressionante o quanto as unidades escolares possuem uma relação precária com os equipamentos culturais e esportivos na cidade e por isso é importante pensar em políticas públicas para integração plena entre escola e cidade.
“O direito à cidade é um direito à cultura. As desigualdades de uma cidade expressam-se inclusive nos seus equipamentos culturais. Em Niterói todos os centros culturais municipais são no eixo centro sul e nenhum está localizado no eixo norte. Por isso, temos feito um esforço de aplicar cotas que privilegiem grupos marginalizados historicamente. Lançamos editais para valorizar coletivos que estão em localidades menos privilegiadas. Esses centros culturais precisam se integrar com as escolas e com os territórios”, Leonardo Giordano, Secretário das Culturas de Niterói
Já para o Secretário de Educação, Vinícius Wu, é preciso superar a visão da cultura como evento. A cultura tem que estar integrada na educação. “Temos uma dívida histórica com essa questão, já que a tendência dos gestores é levar a cultura para a escola como um evento, um episódio, quando na verdade ela precisa transpassar toda a atividade de ensino e estar no desenvolvimento ordinário do currículo”.
Para ele, precisamos aumentar o senso de urgência dos efeitos da pandemia na educação e alargar a oferta integral de educação, ampliando o tempo de ensino. “Na prática é preciso usar os equipamentos esportivos da cidade, criando um ambiente de vivência dentro ou fora da escola. Estamos diante de uma possibilidade de evasão escolar sem precedentes e essas ações poderiam mitigar esse efeito da pandemia na educação”.
Quem não entra no Museu?
Já Victor De Wolf, Diretor do Museu do Arte Contemporânea, nota que o Museu está completando 25 anos como parte integrante da identidade da cidade e um orgulho para o niteroiense. Contudo, o orgulho que niteroiense tem do MAC não está em sintonia com a frequência ao museu. Muitos não frequentam o Museu.